Especialista afirma que IA tanto poderá facilitar a vida cotidiana quanto ampliar as Fake News e outros problemas atuais
27/01/2024 23h53 – Atualizado há 1 dia
Todas as profissões serão, de uma forma ou de outra, afetadas pela Inteligência Artificial (IA). A afirmação é do professor-doutor Rogério Sá Ramalho, presidente do Instituto de Informação para Inovação – i2i e coordenador do Programa de Informação, Tecnologia e Inovação – ITI da UFSCar.
“O Avanço tecnológico tem provocado mudanças na maneira como compreendemos as relações de trabalho. Praticamente nenhuma área, ou profissão, está imune aos impactos provocados por estes avanços. Independentemente do nível social, ou intelectual, é necessário nos adaptarmos às novas demandas de uma sociedade cada vez mais conectada às tecnologias digitais”, destaca ele.
Ramalho comenta que atualmente a área de Inteligência Artificial têm chamado tanto a atenção devido ao fato que o avanço exponencial e a popularização das tecnologias digitais têm favorecido que pessoas com conhecimentos mínimos de computação possam utilizar de maneira intuitiva aplicativos baseados em IA capazes de automatizar tarefas de uma forma que seria inimaginável há algumas décadas.
“Toda tecnologia deve ser encarada como uma ferramenta, as consequências resultantes estão diretamente relacionadas com a forma como são empregadas. A área de IA favorece inúmeras possibilidades de automatização e otimização de rotinas que podem facilitar muito a vida das pessoas. Contudo, do mesmo modo, a utilização destas tecnologias de forma irresponsável ou má intencionada, pode agravar inúmeros problemas já existentes em nossa sociedade, como proliferação de fake News e a banalização de hábitos que podem ser nocivos para nossa saúde, e convívio social”, afirma ele.
Ramalho discorda de quem afirma que a IA represente uma quinta revolução industrial e mostra que o contexto atual é outro. “Embora a IA seja uma tecnologia poderosa, é importante entender que ela não é uma solução mágica. Para seu funcionamento de maneira adequada é necessário que os dados utilizados sejam precisos e confiáveis e que os sistemas sejam treinados adequadamente. A IA pode ajudar a automatizar tarefas repetitivas e a tomar decisões mais precisas, mas é importante reconhecer as limitações na tecnologia. A expressão “Quinta Revolução Industrial” não é amplamente adotada e não me parece adequada, justamente pelo fato de que as mudanças provocadas pela IA são bastante diferentes das revoluções que tinham eixo principal o ambiente industrial. Certamente a evolução da IA representa um marco significativo, porém identifica-se uma convergência mais profunda de diferentes tecnologias, favorecendo a criação de soluções integradas e interdisciplinares, a partir da fusão de IA, biotecnologia, energia renovável e outras áreas poderia caracterizar essa nova fase”, destaca.
Embora muitos nem percebam, a IA já está na grande maioria dos lares. “A IA já impacta a vida da grande maioria das pessoas, mesmo que de forma imperceptível, seja no desenvolvimento de vacinas, automatização de tarefas em sites de compra online, movimentação de conta bancária e até mesmo na escolha do filme que iremos assistir em plataformas de streaming. O fato é que com a popularização da IA estamos cada vez mais tomando consciência das mudanças e impactos destas tecnologias em nossas vidas”, reflete Ramalho.
O especialista vê uma grande contradição na expansão da nova tecnologia. “O avanço da IA cria um paradoxo que ao mesmo tempo exige uma constante atualização tecnológica, também requer que o ser humano resgate seus valores intrínsecos. É necessário identificarmos nosso papel nesta nova revolução, assim como não faz sentido um ser humano tentar competir e correr mais rápido do que um automóvel é importante aprendermos a (re)avaliar como utilizamos as tecnologias digitais, valorizando também habilidades como criatividade e empatia que dificilmente poderão ser automatizadas”, acentua o cientista.
Uma das possibilidades oferecidas pela área de IA é justamente a de aumentar significativamente nossa capacidade de fazer previsões utilizando dados e automatizar processos. “A partir da análise e exploração de grandes conjuntos de dados é possível identificarmos quais os modelos de ensino-aprendizagem são mais eficientes de acordo com o perfil de cada pessoa, realizarmos previsões sobre doenças e tratamentos de forma mais eficiente, bem como analisar um grande conjunto de dados para o desenvolvimento de novas tecnologias que afetam áreas como a agricultura, comunicação e transportes, explica Ramalho.
O avanço da IA também, segundo Ramalho, trará desafios para todos os seres humanos. “Ao longo dos últimos formos surpreendidos com o avanço exponencial na quantidade de aplicações baseadas em IA que se tornaram acessíveis para a grande maioria da sociedade. Contudo, é importante termos consciência de que o avanço das tecnologias digitais também provoca, como efeito colateral, a criação de uma série de outros dilemas sociais, econômicos, políticos e culturais, os quais praticamente ainda não foram enfrentados, ou muitas vezes sequer identificados, tanto no campo teórico quanto prático. Assim, é necessário que cada um busque compreender seu papel neste novo cenário tecnológico, e assuma sua parcela de responsabilidade, de forma ética e socialmente responsável”, conclui ele.