Cenário mais provável é de um membro do PT experiente na Fazenda; reação dos investidores seria neutra
O que podemos esperar da política econômica do novo governo federal? A nosso ver, três possibilidades devem ser consideradas.
A primeira possibilidade seria a adoção de uma política econômica que, ao mesmo tempo que mantém a preocupação com a redução da desigualdade e da pobreza, seja responsável do ponto de vista fiscal.
Esse cenário exigiria a manutenção de uma âncora fiscal forte, mesmo que a regra do teto dos gastos seja alterada, e que se evitem aumentos adicionais de despesas – exceto os já programados, como manter o valor do Auxílio Brasil e algum aumento dos salários dos funcionários públicos, medidas que exigiriam um aumento do teto, permanente e não provisoriamente, em torno de R$ 100 bilhões.
Vista aérea da Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil / Estadão
O risco é a ausência de uma âncora fiscal capaz de evitar que outros penduricalhos de aumento de despesas e redução de receitas, que foram anunciados ao longo da campanha petista, sejam adotados. A ideia de aprovar uma “PEC da Transição” para criar um buraco no teto sem definir o valor, discutida esta semana, é extremamente negativa.
A nomeação de um ministro da Fazenda com perfil ortodoxo, como o ex-ministro Henrique Meirelles, seria positiva. Enviaria aos investidores uma mensagem importante e geraria uma reação positiva no início do governo. Ainda que possível, nossa avaliação é que esse cenário é de muita baixa probabilidade. O PT dificilmente abrirá mão do principal cargo da Esplanada dos Ministérios e de ser o protagonista do novo governo.
A segunda possibilidade e a mais provável seria nomear para o Ministério da Fazenda um membro do PT com experiência na administração pública, um ex-governador da Região Nordeste, por exemplo.
Ainda que os primeiros anúncios não sejam muito promissores (aumento real do salário mínimo, valor adicional de R$ 150 por criança no Auxílio Brasil, entre outros), a definição da política econômica somente ficaria clara ao longo do tempo. A reação dos investidores seria neutra, tipo esperar para ver, a menos que decisões adotadas logo no início do mandato mostrem claramente a direção que será seguida. A Proposta de Emenda à Constituição para furar o teto sem um valor definido aponta nessa direção.
A terceira possibilidade seria nomear para o Ministério da Economia um economista com perfil “desenvolvimentista”, como os que ocuparam o cargo no governo Dilma Rousseff, o que caracterizaria uma volta ao passado na política econômica. A reação dos investidores seria bastante negativa. / PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO, É ECONOMISTA-CHEF DA GENIAL INVESTIMENTOS