Sem atividades coletivas, quadras e ginásios lutam para não fechar – Esportes

Foto: Pedro Piegas (Diário)
Estabelecimentos não podem funcionar para jogos, somente para atendimentos individualizados e para pequenos grupos

Não estamos falando de uma ou outra empresa que está falindo. Mas, sim, um segmento inteiro que está para fechar. Essa é a frase que traduz o sentimento dos proprietários de quadras, campos e ginásios esportivos que funcionam por locação de horários, não só em Santa Maria, mas em todo o Brasil.

Em âmbito local, a reclamação dos empresários da área é maior, pois o ramo praticamente não conseguiu se encaixar nas flexibilizações ao longo de toda a pandemia. Desde março do ano passado, entre reaberturas e fechamentos, foram, no máximo, cerca de dois meses de liberação para trabalhar. Os locais não podem abrir para atividades coletivas, somente para atender pequenos grupos de alunos ou atendimentos personalizados, conforme decreto.

Robson Centurião, ex-jogador do Inter-SM, campeão da Libertadores e do mundo pelo Grêmio, em 1983, proprietário da Quadra Sport Show, expõe as dificuldades encontradas pelos empresários do ramo em meio à pandemia.

– Nosso espaço é alugado, com valor substancial mensal, que, por acordo com o proprietário, está havendo uma flexibilização no aluguel. Situação que, se não fosse assim, tornaria inviável a manutenção dos serviços. A locação da quadra, nossa atividade fim do negócio não está sendo realizada há muito tempo, por impossibilidade dos decretos. Sem contar eventos e vendas do bar, que deixaram de existir – afirma Centurião.

Prejuízos

Ainda conforme o ex-jogador, mesmo com a locação da quadra para treinamentos individualizados, não existe nenhum tipo de lucro, somente prejuízos e dívidas que estão acumuladas.

– Eu vi todas as minhas economias acumuladas em mais de 40 anos de profissão simplesmente acabarem. Estou vendendo meu apartamento para tentar ter uma reserva financeira diante da imprevisibilidade do setor. Vivo, atualmente, da renda do trabalho da minha esposa e não conseguirei me manter nem por mais três meses – completou.

O quadro complicado para quem é dono de uma quadra de futebol sete serve, também, para os ginásios de futsal. José Albino Cervo, arrendatário do Centro Esportivo Pigatto, está realizando trabalhos eventuais em outras áreas para manter as contas em dia.

– Estou me descapitalizando. Tinha umas reservas, e estou fazendo prestações de serviços em outros segmentos até voltar às atividades na quadra, pois as contas fixas do segmento ficaram. Nem os alvarás a prefeitura nos isentou. Estamos de portas fechadas e pagando alvarás de funcionamento – reivindica Cervo.

O empresário não vê perspectivas de melhorias.

– A prefeitura não nos passa informações sobre um possível retorno de locação das quadras. Considero um descaso total. O que faço é manter contato com vereadores na forma de cobrança para reabrir os ginásios – diz.

Foto: Pedro Piegas (Diário)
Desde março do ano passado, o cenário é de campos abandonados

Decretos inviabilizam reabertura

Quando o governo do Estado implementou a cor das bandeiras no Distanciamento Controlado, os empresários do ramo consideram que houve uma demora para adequações nos decretos para garantir o funcionamento de seus estabelecimentos.

– Quando fechamos para atividades coletivas, pensamos que seria por alguns dias. Depois vieram as bandeiras, e em nenhuma delas, os esportes coletivos amadores foram permitidos, num primeiro momento. Após muitos pedidos ao governador e ao prefeito, foi, então, permitido na bandeira laranja. Mas, a pandemia piorou, e não tivemos mais a possibilidade de negociação com o poder executivo, desde que a bandeira foi para vermelha, e depois preta – comenta Rosane Bolson Dalla Favera, proprietária do Dalla Favera.

Mesmo sem ter que pagar o aluguel, por ser proprietária do terreno, Rosane explica que as dificuldades são imensas.

– Apesar de não pagar aluguel, a manutenção como um todo está muito difícil. Com receita zero e compromissos mensais, fica inviável permanecermos ativos por muito tempo. Com fluxo de caixa no limite, estamos usando recursos particulares como as aposentadorias para nos mantermos. Não sobra nada. Aliás, falta. Hoje, na pior fase da pandemia, não vejo luz no final do túnel, infelizmente – conclui Rosane.

“Prática de atividades personalizadas não salvam a empresa”

O Recanto Beach Sports e Lazer, espaço que conta com quadras de areia para futevôlei, vôlei e beach tennis, tanto fechadas quanto ao ar livre, apesar de receber alunos para trabalhos individuais ou em pequenos grupos, vive angústia semelhante aos demais por falta de recursos.

– Estamos somente dando aula para duas pessoas por hora, o que é permitido. Porém, não estamos nem conseguindo pagar as contas. Nem de longe se compara ao que arrecadávamos com o aluguel das quadras. Estamos vivendo um verdadeiro filme de terror. Montamos estrutura para seguir as normas, protocolos de segurança, verificação de temperatura, restrição do público no entorno, mas nem assim podemos funcionar. Ainda mais no nosso caso, onde geralmente são dois para cada lado (vôlei, futevôlei ou beach tennis) – opina Luis Henrique Braz, proprietário do Recanto Beach Sports e Lazer.

Braz compara o fechamento para fins coletivos das quadras com outras atividades que estão teoricamente liberadas.

– Fico me perguntando porque não podemos abrir e uma academia pode. Esse é o grande “xis da questão.” As quadras estiveram sempre fechadas e os números de casos da Covid-19 só aumentam. Acredito que as aglomerações no período do Carnaval, praias, praças lotadas foram que ocasionaram o quadro atual e não quem pratica esporte e atividades físicas, que aumentam a imunidade – comenta o dono do estabelecimento.

O que diz a prefeitura

A prefeitura afirma ter conhecimento do grande problema enfrentado pelos locais esportivos e diz buscar alternativas para os empresários. A assessoria da prefeitura enviou uma nota sobre o setor.

“A prefeitura de Santa Maria informa, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, que, no que diz respeito à reabertura deste setor, o município depende de decretos estaduais. Assim que o governo do Estado permitir a reabertura, o Executivo Municipal irá avaliar a situação e dar condições para que, de fato, isto ocorra.

Além disso, a pasta reconhece que o setor de quadras esportivas é duramente afetado economicamente, porém, dentro das competências da prefeitura, não é possível executar um programa de apoio para um segmento específico. A atual gestão lançou uma série de medidas para amenizar as perdas financeiras de toda a cadeia produtiva, inclusive, triplicando os recursos para o programa Juro Zero – projeto que tramita na Câmara de Vereadores – , passando de R$ 1 milhão para R$ 3 milhões.

Por fim, a prefeitura esclarece que, paralelamente, continua pautando, junto ao governo do Estado, a possibilidade de reabertura de atividades econômicas que não podem funcionar no momento”, consta na nota.